ANÁLISE-Crise econômica assombra vitória eleitoral de Chávez
Por Brian Ellsworth
CARACAS (Reuters) - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, venceu no domingo o referendo que lhe permitirá se reeleger indefinidamente, mas seu trunfo deve ser ofuscado pelas dificuldades econômicas no país petroleiro, que prenunciam um ano cheio de medidas impopulares.
A atual queda na cotação do petróleo afeta diretamente as finanças da Venezuela, e Chávez enfrenta uma desaceleração econômica, inflação galopante e a necessidade de cortar programas sociais que formam a base da sua autointitulada "revolução socialista".
Esse panorama difícil pode reduzir a influência do mais inflamado crítico dos EUA na América Latina, mesmo que o referendo de domingo tenha reforçado seu poder, ao autorizá-lo a disputar um novo mandato de seis anos em 2012 e nas eleições seguintes.
"Não importa como eu o veja, não vejo muito de positivo para o futuro", disse Alvise Marino, analista da IDEAglobal em Nova York. "Quanto mais projetamos, mas vemos os efeitos ruins da desaceleração econômica."
A redução de mais de 100 dólares na cotação do barril de petróleo desde o ano passado indica o fim de cinco anos de forte crescimento, embora até agora poucos venezuelanos sintam isso -- os shoppings continuam lotados, e o trânsito em Caracas permanece infernal.
Economistas dizem que a Venezuela precisaria justamente de medidas que Chávez sempre evitou: corte de gastos públicos, desvalorização da moeda e política fiscal mais rígida para combater a inflação mais alta do continente, que chegou a 31 por cento em 2008.
Embora a vitória expressiva no referendo, com 54,4 por cento de apoio ao "Sim", possa lhe dar margem de manobra para fazer cortes, Chávez frequentemente diz que essas medidas são "neoliberais" e contrariam a sua visão socialista.
"Os resultados do referendo nada mudam o tsunami econômico que o país irá enfrentar neste ano", disse um analista financeiro local, pedindo anonimato.
OPÇÕES POLÍTICAS
As opções políticas de Chávez podem ter crescido no domingo, mas suas alternativas econômicas estão encolhendo. A Venezuela depende do setor petrolífero para receber 93 por cento das suas divisas internacionais. Na atual crise global, a obtenção de crédito se tornou cara e proibitiva.
A desvalorização da moeda nacional poderia gerar oportunidades para a indústria local, sufocada com o controle cambial que mantém o bolívar artificialmente sobrevalorizado, a 2,15 por dólar. Mas a desvalorização também geraria inflação, que é uma forte queixa dos seguidores de Chávez.
"Ele continuará tendo de lidar com desequilíbrios econômicos extremamente desafiadores, mas com mais capital político ele terá mais margem de manobra para lidar com esses desequilíbrios", disse Patrick Esteruelas, do Eurasia Group, em Nova York.
Apesar disso, ele disse que Chávez não deve tomar as decisões necessárias para evitar "uma crise fiscal total em 2010".
Economistas dizem que, em vez de desvalorizar, Chávez poderia restringir os dólares para as importações, de modo a proteger as reservas, embora isso ameace gerar uma escassez de gêneros semelhante à que ocorreu em 2007, o que abalou sua popularidade.
A crise já afeta alguns petroleiros. Cerca de 5.000 membros da categoria estão desempregados, e outros 5.000 estão sem receber salário devido à falta de liquidez da estatal PDVSA -- um possível prenúncio do que pode acontecer em toda a economia.
Também por causa da queda do petróleo, Chávez não terá como arcar com os gastos públicos, que cresceram 32 por cento nos dez primeiros meses de 2008, em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Banco Central.
Os títulos da dívida e a moeda da Venezuela, comercializada a quase 6 bolívares por dólar no mercado negro, também perderam terreno por causa da crise.
"Sua estratégia tem sido a de apostar nos preços elevados do petróleo, e isso não está mais funcionando", disse o economista José Guerra, ex-diretor do Banco Central, crítico do governo.
UOL
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